Assunto: Poliritmos
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Não lido Seg, 3 de Abril de 2006   #1
João Timbalão
 
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Poliritmos

África é a mãe de todos os ritmos e onde a poliritmia é uma coisa natural que não se explica, sente-se e faz-se. Nós ocidentais temos por vezes que teorizar para entender e então sentir.
Poliritmia é uma mistura de ritmos com um número de tempos base diferente mas que se encontram no denominador comum.
Polimetria ou modulação métrica é uma frase ou malha passar para lá da barra de compasso, provocando que se tem que tocar um determinado nº de compassos até se sincronizar de novo os uns. As duas noções são idênticas, uma refere-se a ritmos, outra a medidas (compassos).
Começando com um ritmo base de 4 tempos em que contamos 1 2 3 4 1 2 3 4 sucessivamente, aplicamos uma acentuação de, por ex. 5 em 5 tempos. Ficamos com:
UM 2 3 4 1 DOIS 3 4 1 2 TRÊS 4 1 2 3 QUATRO 1 2 3 4 UM...
Isto é um poliritmo dum 5 contra um 4. Em cada 5 compassos de 4 tempos voltamos a ter os uns sincronizados.
Se quisermos um sete contra um quatro:
UM 2 3 4 1 2 3 QUATRO 1 2 3 4 1 2 TRÊS 4 1 2 3 4 1 DOIS 3 4 1 2 3 4 UM...
Agora fizemos 7 compassos de 4 tempos até sincronizar os uns.
Experimentem aplicar estas acentuações quando estão a tocar um fill num quaternário. Se fizermos single strokes, pancadas simples alternadas, temos no 1º ex.:
D1 e2 d3 e4 d1 E2 d3 e4 d1 e2 D3 e4 d1 e2 d3 E4 d1 e2 d3 e4 D1...
NO 2º:
D1 e2 d3 e4 d1 e2 d3 E4 d1 e2 d3 e4 d1 e2 D3 e4 d1 e2 d3 e4 d1 E2 d3 e4 d1 e2 d3 e4 D1...
Outro exemplo de poliritmo ou polimetria, depende como o virmos, é tocar três compassos de quatro tempos com uma mão enquanto tocamos quatro compassos de três tempos com a outra, começando ambas no 1º um ao mesmo tempo e voltando no fim a acertar os uns. A melhor maneira que tenho para ilustrar isto aqui é com o diagrama em baixo.

Experimentem ouvir música tribal africana, nomeadamente a Mandinga, da zona do Mali, Costa do Marfim, da cena dos djembés e das dumdumbas. É um espanto de poliritmia. King Crimson tem também muito disto, Genesis da era Steve Hackett, Yes, Gentle Giants é bué de polirítmico, etc.
Também há muito na bateria do jazz, principalmente depois de Elvin Jones aparecer com a modulação métrica no seu fraseado.

Isto é óbviamente exequível em qualquer instrumento. É música, a qual só existe com ritmo. Sem ele não passa de som.
Os poliritmos são parte dos fundamentos do ritmo e da música em termos ancestrais, de há muitos milhares de anos atrás, no princípio da comunicação e da expressão musical dos primeiros homens das cavernas em África e nalgumas culturas dos dias de hoje é das coisas mais óbvias e naturais. Tanto no jazz como no clássico ou nas várias formas tradicionais, mais tarde ou mais cedo tem que se chegar lá. Alguns professores deixam para mais tarde por ser um tema "complicado". A minha experiência de aluno e de professor diz-me que essa postura é que cria a complicação. Todos os assuntos têm o seu estado mais fácil e mais difícil. Quanto mais cedo se começar a explicar, desmistificar, perceber e aplicar, melhor.
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Última edição de João Timbalão : Seg, 3 de Abril de 2006 às 10:21.
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