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Não lido Sex, 26 de Dezembro de 2014   #1
knk
 
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knk será famoso em breveknk será famoso em breve
Compor, ensaiar, tocar, gravar, interpretar... que ordem?

Ultimamente tenho pensado neste assunto...

Nos primórdios da música contemporânea, interessava os intérpretes/músicos levarem à letra aquilo que estava escrito pelo compositor. Haviam poucos gajos a compor, é certo. Mas a liberdade criativa era exercida ao nível individual e não colectivo. Pelo menos não conheço nenhuma obra de "Mozart & Friends".

Quando chegamos à era do Jazz e do Rock já no século XX, tinhamos mentores/compositores, ou aqueles que agora chamamos de diretores musicais, que lideravam os grupos, mas o objectivo era a banda compor e tocar o melhor possível para transpor essa execução num álbum e ao vivo.
Ou seja, o que quero dizer é que se trabalhava na sala de ensaios cada tema com todas as suas dinâmicas, intenções e execuções, porque aquilo que se ouvia ali era o que se pretendia captar num disco e fazer soar num PA.
A esmagadora maioria dos músicos tinha plena consciência daquilo que executava e a intenção com que o fazia porque normalmente até tinha sido ele a compor aquela linha musical/letra.
As gravações eram, na sua maioria, em simultâneo e em formato "ao vivo", logo a música tinha de sair da sala de ensaios como um produto final já com pré-mistura. Os sons das guitarras tinham de estar no ponto. As baterias afinadas. Os saxos com as boquilhas adequadas. O amp do baixo tinha de ter «aquele» range de frequências específico. Tudo isto como exemplo para que numa gravação linear, o produto trabalhado estivesse LÁ... no ponto.

Quando comecei a tocar, juntava-me com malta na sala de ensaios. Trabalhávamos originais para que a sonoridade fosse adequada, como quem diz, para que as pessoas ouvissem aquilo da forma que nós queríamos que ouvissem.

Agora, noto as bandas a caminharem no sentido da tecnologia.
Primeiro compõe-se. Depois logo se vê.
A maioria das bandas tem um ou dois carolas que fazem as músicas. As baterias são programadas em MIDI. Os baixos são ligados diretos ao interface do PC e depois logo se vê. As guitarras passam por processadores digitais, ou por software. As vozes ficam para o fim...
VST's sobre VST's, o trabalho que antes era da banda é agora do "técnico" que grava, mistura, escolhe o que acentuar, o que baixar, onde meter mais efeitos na voz, onde a guitarra soar mais alto, ou seja, está a fazer o papel de um produtor.
Esse produtor, para mim, deveria ser um conselheiro da banda que vai a meia dúzia de ensaios para conhecer a banda, a sua música, a sua sonoridade, e consegue em estúdio fazer sobressair o que de melhor há em cada tema. Puxando uns cordelhinhos aqui e ali, vai limando o produto.
Esse produtor (muitas vezes na pele do «técnico» do estúdio) não deveria definir a sonoridade da banda, como acontece.

O que sucede depois é uma coisa esquisita (nos dias de hoje)...
Com a massificação dos sistemas de gravação para qualquer bolso, e a quantidade de «musicos» que por aí andam, cai-se no imediatismo.
As bandas têm temas gravados. Têm de reaprender a tocá-los, ou pelo menos a imitar aquilo que ficou no CD - de forma mecânica, muitas vezes - e perde-se o feeling original, se é que alguma vez houve.
Ao vivo, onde realmente se vê o que a banda vale. A coisa cai, na maioria das vezes por terra.

Digo isto por vários motivos:
- Já alguém foi recentemente a um festival de bandas? Sim, praticamente todos têm demos na net, alguns até dizem que andam em digressão dos seus «CD's». Se os ouvirmos nos Faces, Youtubes e RevNations (há uns anos Myspaces), a maioria até soa bem! A coisa está bem feitinha na gravação... podemos notar baterias mecanizadas em loops e sem dinâmicas, sons de guitarras extremamente digitais e uma falta de produção competente em termos de «finalização» de um trabalho que aspira a ser «final». Mas muitas vezes até soa bem.
Já ao vivo... credo... 90% soa mesmo àquilo que chamamos de «banda de garagem». Não bate certo com aquilo que é a gravação.

Um bocado naquela ótica da fotografia (hoje em dia). Como qualquer pessoa tem uma maquineta e tira uma fotos. Juntemos-lhe um photoshop pirateado e a coisa parece profissional.
Mas... e a sensibilidade? E a capacidade de captar a fotografia já como resultado final, como a imaginamos. Com aquele enquadramento, aquela luminosidade, aquele efeito de lente... em suma, aquele sentimento?

O músico é um veículo. O compositor é um artista. Um músico que compõe e interpreta transporta sentimentos em todas as direcções.
Agora imaginemos uma banda inteira! Se todos meterem o seu cunho, se todos interpretarem com o mesmo sentimento que compuseram as suas linhas instrumentais/vocais.
Todo um conjunto de sentimentos numa só música.
Toda uma sonoridade trabalhada para que ao vivo o feeling esteja lá.
Todo um trabalho para que numa gravação a banda soe àquilo que é, só que melhor ainda!
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Dinâmicas pessoal... dinâmicas!
knk não está cá agora...   Citar esta Mensagem