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Não lido Ter, 7 de Novembro de 2006   #1
Felipe Basilio
 
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Felipe Basilio está no bom caminho
[Entrevista] Pascoal Meirelles (2004)

Entrevista a Pascoal Meirelles
por Carlos Fernando Maggiolo - 18/07/2004

Em 1979, já apaixonado pelos tambores, tive o privilégio de assistir um show do Pascoal Meirelles no Parque Lage (Rio). Foi a primeira vez que vi um baterista destruir a bateria e me deu a impressão que eu não nasci para tocar esse instrumento. Fui com a minha banda - o guitarra-solo Rogério Meanda, o guitarra-base Dudu Chermont e o baixista Musa. Todos ficamos impressionados com a performance do Pascoal - tanto, que mudou a cara da banda. Implementamos mais swing, mais Brasil, um som mais latino. A banda acabou um ou dois anos depois, mas essa influência eu trago comigo até hoje.
Precisei da ajuda do Sérgio Conforti para estabelecer parâmetros na formulação das perguntas porque me senti suspeito. Como um bom fã, eu acabaria perguntando qual a pasta de dentes do Pascoal como se fosse o tema mais importante da entrevista. Amigos, confesso que foi emocionante. Um dos meus ídolos (e de qualquer baterista consciente da importância do seu nome na música brasileira) me dando uma entrevista exclusiva...foi demais. Acho que tenho que parar por aqui e deixar o Pascoal falar. Já bastou nos bastidores: eu não conseguia parar de elogiar o trabalho dele e por pouco não inviabilizei a entrevista, pois eu não deixava o Pascoal responder. Com vocês, Pascoal Meirelles.

Site Batera: Por muitos anos você acompanhou o Gonzaguinha - como foi aquele tempo?

Pascoal Meirelles: Trabalhei durante 12 anos com o Gonzaga. Naquele momento da minha vida profissional foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Estava chegando da minha bolsa de estudos dos Estados Unidos e precisava conseguir um trabalho significativo, de expressão. Por sua vez, o Gonzaga acabara de emplacar seu primeiro grande sucesso, que foi "Explode Coração" - era o que eu precisava. A banda na época era Jota Moraes - teclados e arranjos, Ary Piassarolo e Fredera - guitarras, Paulo Maranhão - baixo e eu entrei no lugar de Claudio Caribé, indicado por ele mesmo. Posso dizer que depois de frequentar a Berklee, o trabalho com Gonzaga foi uma verdadeira aula ao vivo da cultura brasileira, pois a cada tour pelo Brasil, eu aproveitava para pesquisar o frevo, maracatu e a ciranda em Recife, o candomblé, o samba de roda e os afoxés na Bahia, o Bumba meu Boi em São Luiz do Maranhão, os catopés e Folia de Reis em Minas Gerais, os CTG (centros de tradição gaúcha) no Rio Grande do Sul. Eu rodei muito esse Brasil com o Gonzaga. Umas cinco vezes pude iniciar com autenticidade meu trabalho de pesquisa das raízes da musica brasileira.

Site Batera: Como surgiu a idéia do Cama de Gato? O que estão fazendo e quais são os projetos do grupo?

Pascoal Meirelles: Aproveitando a deixa da pesquisa com o Gonzaga, Mauro Senise, Nilson Matta, Romero Lubambo e eu iniciamos o Cama de Gato, que foi um grupo para praticarmos nosso próprio material. Já passaram Rique Pantoja (teclados) e Arthur Maia (baixo) pela banda, mas a nossa formação atual é: Jota Moraes, Mauro Senise, Mingo Araujo, André Neiva e eu. Inicialmente não estávamos preocupados em entrar no estúdio logo e sim preparar um material decente. Ficamos nessa de 83 até 86, quando gravamos uma fita e apresentamos ao Som da Gente em São Paulo. A Tereza Souza adorou o trabalho e comprou o tape . Juntando Brasil e exterior, esse vinil vendeu aproximadamente 70.000 copias e foi a maior tiragem de musica instrumental brasileira na década de 80. Ano passado lançamos nosso sexto cd e estamos em processo de divulgação pelo Brasil - e exterior. Em Março estivemos em Quito, Equador, tocando para 1800 pessoas da Sociedade Filarmônica de Quito. Ao retornar fizemos uma tour pelos Sescs do Estado do Rio. Agora vamos tocar em Joinville e no Festival de Inverno de Petrópolis.

Site Batera: Você tem sua carreira solo, seus próprios projetos. Quais são as maiores diferenças entre acompanhar artistas e ter seu próprio trabalho?

Pascoal Meirelles: É verdade - entre vinis e cds, já fiz sete álbuns solo até agora. Sempre quis diversificar meu trabalho solo, usando várias formações, desde Trio até a Big Band, em todos eles pensando em qual sonoridade cada composição precisava realmente. Lancei um cd com um sexteto fixo- Idriss Boudrioua- sax alto, Daniel Garcia - sax-tenor, Jessé Sadoc - trompete, Alberto Continentino - baixo e no piano - Dario Galante. Esse sexteto foi uma espécie de realização um sonho em fazer um trabalho com uma sonoridade fixa. Até então meus trabalhos eram sempre heterogêneos. A diferença principal entre fazer o seu trabalho e a de ser um "sideman" é que você está plantando uma semente irreversível da sua própria vida musical.

Site Batera: Quais são as suas novidades? E seus projetos?

Pascoal Meirelles: As minhas novidades musicais deste ano são os dois lançamentos que fizemos: primeiro o cd "Água de Chuva", sexto trabalho do Cama de Gato - e depois meu sétimo trabalho solo, o "Tom", meu primeiro trabalho com um trio - Nelson Faria na guitarra e Alberto Continentino no baixo. E como projeto pro resto do segundo semestre, fui convidado pela Universidade São Francisco de Quito, Equador, como "Artist in Residence", de Setembro a Dezembro dando aulas particulares de bateria e ensaiando grupos musicais dos alunos para apresentarem repertórios de música brasileira. Essa Universidade é americana e adotou o sistema da Berklee.

Site Batera: Houve um período no qual as baterias eletrônicas programáveis andaram ameaçando o trabalho dos bateristas. Com a moda dos acústicos, essa situação parece que melhorou. Como anda o mercado de gravações?

Pascoal Meirelles: Devo dizer que na época que estava no auge a programação de bateria nos estúdios, me juntei com Fernando Pereira e o Sindicato dos Músicos para conscientizar as pessoas em relação a esse problema do mercado de gravações. Traduzi o método inteiro da Linn Drum e fizemos reuniões para que todos entendessem que se o baterista aprendesse a operar com proficiência uma bateria eletrônica, ele seria chamado para operar no lugar de qualquer outra pessoa. Bem, essa fase passou e o que se vê hoje são as grandes gravadoras só investindo nos grandes nomes. Com isso, cada artista têm sua própria banda e aproveita e entra em estúdio com elas. O músico free-lancer mudou de lado. Geralmente quem ainda está free-lancer, como eu, trabalha dentro de um projeto próprio e aguarda uma eventual participação em trabalhos dos outros.

Site Batera: Você estudou em Berklee. O que pensa a respeito do estudo da bateria, quando muita gente exalta o autodidatismo?

Pascoal Meirelles: Eu tive a sorte de ganhar uma bolsa de estudos e pude também cumprir uma das minhas metas que era ter um ensino formal de música. Digo música total: escrever, tocar, arranjar e compor. Toquei e trabalhei durante 15 anos sem nunca ter frequentado um curso de música, mas acredito que qualquer músico que leve sua profissão a sério começa a sentir falta disso depois de um certo tempo. Só pude começar com base o meu lado de compositor depois que frequentei cursos acadêmicos. Não tenho a genialidade de um Hermeto e como se diz na gíria, só ralando no banco de uma boa escola que se consegue superar essa dificuldade. E se você analisar, ninguém aprende as coisas se não observar os colegas tocando, ouvir o maior numero possível de músicas de estilos bem variados e frequentar todo tipo de evento musical.

Site Batera: Quais foram suas primeiras influências e quem hoje desperta sua atenção?

Pascoal Meirelles: Eu comecei a tocar no final da bossa nova. O Samba-jazz foi uma das minhas influências. Cito Edison Machado, Dom Um Romão, Helcio Milito, Rubens Barsotti, Wilson Das Neves, Waltinho de Belo Horizonte, Luciano Perrone do Radamés Gnatalli e Plinio Araujo. É claro que ouvia muito jazz: Art Blakey, Elvin Jones, Tony Williams, Jack De Johenette, Steve Gadd me chamaram a atenção. Só que não paro por ai. Hoje escuto com atenção Vinnie Colaiuta, Dave Weckl, Simon Philips, Carllos Balla, Paulo Braga, Robertinho Silva, Marco Minemann, só pra citar os que considero mais importantes. Mas ai você olha quem está vindo e fica feliz com a renovação no Brasil - Rafael Barata, Kleberson Caetano, Renato Massa são alguns desses novos valores.

Site Batera: Em seu álbum "Forró Brabo" você andou usando pedal duplo. Quando começou esse seu contato com o pedal duplo e o que te motivou?

Pascoal Meirelles: Me considero um estudante do pedal duplo. Pra quem começa a tocar agora e já pratica diariamente o pedal duplo, o condicionamento é muito mais rápido. Passei pelo menos 35 anos tocando com um só pedal e continuo a sentir meu pé esquerdo bem enferrujado!! Mas continuo tentando, quem sabe algum dia consigo alguma coisa? O solo que fiz no cd "Forró Brabo" traduz o que penso no momento de como desenvolver essa técnica.

Site Batera: Você é um dos grandes representantes do samba-jazz. O que você pode falar sobre essa fusão de estilos e quais são os principais nomes e trabalhos?

Pascoal Meirelles: Eu cito o Edison Machado o principal representante deste gênero musical. Ele ouvia muito Elvin Jones e achou que podia transportar aquele estilo pro samba. Foi de uma grande felicidade, pois se você ouvir "Edison Machado é Samba Novo" vai entender o que estou falando. É claro que se seguem outros nomes como, Airto Moreira, Milton Banana, Dom Um Romão, mas ninguém expressou esse estilo como ele.

Site Batera: Na década de 80, haviam diversos projetos patrocinados pela Prefeitura do Rio, se não me engano. Era o Rio Arte Instrumental, no Parque da Catacumba, o Som nas Ondas, no Parque Garota de Ipanema e o Palco Sobre Rodas, que viajava pela cidade. O primeiro, especificamente, foi um importante apoio para a música instrumental brasileira. Como você vê hoje a música instrumental brasileira? Fale sobre a importância desses projetos.

Pascoal Meirelles: No Brasil tudo acontece em ciclos. Estamos vivendo uma entressafra, mas com o advento do Governo Lula, sinto que as coisas vão melhorar na Cultura. Quem se organizar como se organizou na época áurea da Rio Arte vai colher frutos. Não sou de ficar reclamando das coisas e acho que têm gente trabalhando e interessada em produzir música de qualidade no Brasil.

Site Batera: O samba surgiu antes da bateria e, ao longo dos anos, foi evoluindo por meio de vários bateristas. Você mesmo ajudou a desenvolver o gênero, criando uma levada de vassourinhas e uma outra que simula uma batucada. Quais os bateristas que você considera mais importantes e que deixaram suas marcas no gênero? Quantas são as formas de se tocar o samba?

Pascoal Meirelles: Pra mim o primeiro que se interessou em fazer a passagem da sonoridade da escola de samba pra bateria foi o Luciano Perrone. E foi bom que ele foi reconhecido em vida. Seu LP - Batucada Fantástica - ganhou o Gran Prix do Disco na França. O Wilson Das Neves contribuiu também gravando grandes sucessos do samba do Rio de Janeiro. Paulinho Magalhães, baterista da Radio Nacional que se mudou pra Los Angeles foi outro importante baterista dessa época. Minha contribuição foi ter gravado "O que é o que é" com o grande Gonzaguinha na MPB e no instrumental "Melancia", sucesso indiscutível do Cama de Gato. Eu agradeço sua consideração comigo sobre o meu samba de vassouras, mas minha intenção foi imitar o som da levada do pandeiro. Em relação à distribuição nos tambores com baquetas, a idéia foi colocar o surdo junto com o surdo de corte e adicionar com as levadas da caixa clara da escola. A verdade é que nós temos uma variedade enorme nessas interpretações que fica difícil dizer quem criou uma levada que ainda não tenha sido pesquisada.

Gostaria de deixar meu site para os leitores caso pretendam conhecer meu trabalho: www.pascoalmeirelles.mus.br
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