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Esplanada dos Batucadores (Off Topic) Aqui, toma-se um copo e troca-se dois dedos de conversa... Conversa geral directa ou indirectamente ligada à bateria e percussão. (Nota: O bom-senso será a regra de ouro, e os assuntos ou temas ofensivos serão removidos e os membros infractores serão punidos.)


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Não lido Ter, 2 de Fevereiro de 2010   #1
LEONEL RODRIGUES
 
Membro desde: 5-Jan-2010
Local: Porto
Mensagens: 1.316
LEONEL RODRIGUES é uma jóia em brutoLEONEL RODRIGUES é uma jóia em brutoLEONEL RODRIGUES é uma jóia em brutoLEONEL RODRIGUES é uma jóia em brutoLEONEL RODRIGUES é uma jóia em bruto
Faleceu Rosa Lobato Faria

Olá Pessoal

Faleceu Rosa Lobato Faria

Palavras.............
Mais um vulto da cultura nacional
LEONEL RODRIGUES não está cá agora...   Citar esta Mensagem
Não lido Ter, 2 de Fevereiro de 2010   #2
MitchKabuza
 
Membro desde: 4-Out-2009
Local: Leça Balio
Mensagens: 124
MitchKabuza está no bom caminho
Re: Rosa Lobato Faria

Uma perda tremenda para o nosso país. Grande actriz e pelo que me dizem grande persona. R.I.P.
MitchKabuza não está cá agora...   Citar esta Mensagem
Não lido Ter, 2 de Fevereiro de 2010   #3
LEONEL RODRIGUES
 
Membro desde: 5-Jan-2010
Local: Porto
Mensagens: 1.316
LEONEL RODRIGUES é uma jóia em brutoLEONEL RODRIGUES é uma jóia em brutoLEONEL RODRIGUES é uma jóia em brutoLEONEL RODRIGUES é uma jóia em brutoLEONEL RODRIGUES é uma jóia em bruto
Re: Rosa Lobato Faria

Citação:
Mensagem Original de LMR60 Ver Mensagem
Olá Pessoal

Faleceu Rosa Lobato Faria

Palavras.............
Mais um vulto da cultura nacional
Citação:
Mensagem Original de MitchKabuza Ver Mensagem
Uma perda tremenda para o nosso país. Grande actriz e pelo que me dizem grande persona. R.I.P.
Boas novamente
E sem querer ser mais papista que o Papa, propunha á Moderação e Administração do Forum, fazer um dia de luto, ou qualquer coisa, para homenagearmos esta grande Senhora da cultura. Há muito boas letras em canções que se calhar já tocamos que eram da sua autoria. Isto para "calar" alguns que dizem que só sabemos fazer barulho, porque afinal também sabemos respeitar os "silêncios".
Abraço Pessoal
LEONEL RODRIGUES não está cá agora...   Citar esta Mensagem
Não lido Qua, 3 de Fevereiro de 2010   #4
Miguel Martinho
 
Membro desde: 3-Abr-2006
Local: Bobadela/Lisboa
Mensagens: 7.215
Miguel Martinho é um glorioso foco de luzMiguel Martinho é um glorioso foco de luzMiguel Martinho é um glorioso foco de luzMiguel Martinho é um glorioso foco de luzMiguel Martinho é um glorioso foco de luzMiguel Martinho é um glorioso foco de luzMiguel Martinho é um glorioso foco de luzMiguel Martinho é um glorioso foco de luzMiguel Martinho é um glorioso foco de luzMiguel Martinho é um glorioso foco de luzMiguel Martinho é um glorioso foco de luz
Re: Faleceu Rosa Lobato Faria

Deixo aqui este tema com letra de sua autoria que tão bem encaixa neste forum:

__________________
Baquetas BateristasPT-Missom
Miguel Martinho não está cá agora...   Citar esta Mensagem
Não lido Qua, 3 de Fevereiro de 2010   #5
enes

 
Membro desde: 8-Fev-2008
Local: esposende/ caracas VEN
Mensagens: 3.911
enes é um glorioso foco de luzenes é um glorioso foco de luzenes é um glorioso foco de luzenes é um glorioso foco de luzenes é um glorioso foco de luzenes é um glorioso foco de luzenes é um glorioso foco de luzenes é um glorioso foco de luzenes é um glorioso foco de luzenes é um glorioso foco de luzenes é um glorioso foco de luz
Re: Faleceu Rosa Lobato Faria

eu ja fiz o meu minuto de silencio... com essa mesma musica.
__________________
nop... nada... rien... niente... napa de assinatura.
enes não está cá agora...   Citar esta Mensagem
Não lido Qui, 4 de Fevereiro de 2010   #6
Bernardo
 
Membro desde: 29-Out-2009
Local: Porto
Mensagens: 2.459
Bernardo tem uma aura espectacular à voltaBernardo tem uma aura espectacular à voltaBernardo tem uma aura espectacular à volta
Re: Faleceu Rosa Lobato Faria

Uma grande perda para a cultura nacional em geral .. Bem só resta mesmo dizer, descanse em paz A comunidade baterista está solidária!

R.I.P
Bernardo não está cá agora...   Citar esta Mensagem
Não lido Qui, 18 de Fevereiro de 2010   #7
Madeira
 
Membro desde: 3-Abr-2006
Local: Portimão
Mensagens: 7.615
Madeira é um glorioso foco de luzMadeira é um glorioso foco de luzMadeira é um glorioso foco de luzMadeira é um glorioso foco de luzMadeira é um glorioso foco de luzMadeira é um glorioso foco de luzMadeira é um glorioso foco de luzMadeira é um glorioso foco de luzMadeira é um glorioso foco de luzMadeira é um glorioso foco de luzMadeira é um glorioso foco de luz
Re: Faleceu Rosa Lobato Faria

Autobiografia (aos 75 anos) de Rosa Lobato de Faria

A escritora, letrista e actriz Rosa Lobato Faria, morreu, dia 2 de Fevereiro de 2010,
aos 77 anos, depois de uma semana de internamento num hospital
privado. Foi colaboradora (dizendo poesias) de David Mourão-Ferreira
em programas literários da televisão. Autora, entre outros, dos
romances Flor do Sal, A Trança de Inês, Romance de Cordélia, O
Prenúncio das Águas, ou mais recentemente A Estrela de Gonçalo Enes
(ed. Quasi). Publicamos aqui a 'autobiografia' que escreveu para o JL
há dois anos.


Autobiografia.

Quando eu era pequena havia um mistério chamado Infância. Nunca
tínhamos ouvido falar de coisas aberrantes como educação sexual,
política e pedofilia. Vivíamos num mundo mágico de princesas
imaginárias, príncipes encantados e animais que falavam. A pior pessoa
que conhecíamos era a Bruxa da Branca de Neve. Fazíamos hospitais para
as formigas onde as camas eram folhinhas de oliveira e não comíamos à
mesa com os adultos. Isto poupava-nos a conversas enfadonhas e
incompreensíveis, a milhas do nosso mundo tão outro, e deixava-nos
livres para projectos essenciais, como ir ver oscilar os agriões nos
regatos e fazer colares e brincos de cerejas. Baptizávamos as árvores,
passeávamos de burro, fabricávamos grinaldas de flores do campo.
Fazíamos quadras ao desafio, inventávamos palavras e entoávamos
melodias nunca aprendidas.

Na Infância as escolas ainda não tinham fechado. Ensinavam-nos coisas
inúteis como as regras da sintaxe e da ortografia, coisas traumáticas
como sujeitos, predicados e complementos directos, coisas imbecis como
verbos e tabuadas. Tinham a infeliz ideia de nos ensinar a pensar e a
surpreendente mania de acreditar que isso era bom.
Não batíamos na professora, levávamos-lhe flores.

E depois ainda havia infância para perceber o aroma do suco das maçãs
trincadas com dentes novos, um rasto de hortelã nos aventais, a
angustia de esperar o nascer do sol sem ter a certeza de que viria
(não fosse a ousadia dos pássaros só visíveis na luz indecisa da
aurora), a beleza das cantigas límpidas das camponesas, o fulgor das
papoilas. E havia a praia, o mar, as bolas de Berlim. (As bolas de
Berlim são uma espécie de ex-libris da Infância e nunca mais na vida
houve fosse o que fosse que nos soubesse tão bem).

Aos quatro anos aprendi a ler; aos seis fazia versos, aos nove
ensinaram-me inglês e pude alargar o âmbito das minhas leituras
infantis. Aos treze fui, interna, para o Colégio. Ali havia muitas
raparigas que cheiravam a pão, escreviam cartas às escondidas, e
sonhavam com os filmes que viam nas férias. Tínhamos a certeza de que
o Tyrone Power havia de vir buscar-nos, com os seus olhos morenos,
depois de nos ter visto fazer uma entrada espampanante no salão de
baile onde o Fred Astaire já nos teria escolhido para seu par ideal.

Chamava-se a isto Adolescência, as formas cresciam-nos como as
necessidades do espírito, música, leitura, poesia, para mim sobretudo
literatura, história universal, história de arte, descobrimentos e o
Camões a contar aquilo tudo, e as professoras a dizerem, aplica-te,
menina, que vais ser escritora.

Eram aulas gloriosas, em que a espuma do mar entrava pela janela, a
música da poesia medieval ressoava nas paredes cheias de sol, ay eu
coitada, como vivo em gran cuidado, e ay flores, se sabedes novas,
vai-las lavar alva, e o rio corria entre as carteiras e nele
molhávamos os pés e as almas.

Além de tudo isto, que sorte, ainda havia tremas e acentos graves.
Mas também tínhamos a célebre aula de Economia Doméstica de onde
saíamos com a sensação de que a mulher era uma ****inha frágil, sem
vontade própria, sempre a obedecer ao marido, fraca de espírito que
não de corpo, pois, tendo passado o dia inteiro a esfregar o chão com
palha de aço, a espalhar cera, a puxar-lhe o lustro, mal ouvia a chave
na porta havia de apresentar-se ao macho milagrosamente fresca,
vestida de Doris Day, a mesa posta, o jantarinho rescendente, e nem
uma unha partida, nem um cabelo desalinhado, lá-lá-lá, chegaste, meu
amor, que felicidade! (A professora era uma solteirona, mais sonhadora
do que nós, que sabia todas as receitas do mundo para tirar todas as
nódoas do mundo e os melhores truques para arear os tachos de cobre
que ninguém tinha na vida real).

Mas o que sabíamos nós da vida real? Aos 17 anos entrei para a
Faculdade sem fazer a mínima ideia do que isso fosse. Aos 19 casei-me,
ainda completamente em branco (e não me refiro só à cor do vestido).
Só seis anos, três filhos e centenas de livros mais tarde é que
resolvi arrumar os meus valores como quem arruma um guarda-vestidos.
Isto não, isto não se usa, isto não gosto, isto sim, isto seguramente,
isto talvez. Os preconceitos foram os primeiros a desandar, assim como
todos os itens que à pergunta porquê só me tinham respondido porque
sim, ou, pior, porque sempre foi assim. E eu, tumba, lixo, se sempre
foi assim é altura de deixar de ser e começar a abrir caminho às
gerações futuras (ainda não sabia que entre os meus 12 netos se
contariam nove mulheres). Ouvi ontem uma jovem a dizer, a revolução
que nós fizemos nos últimos anos. Não meu amor: a revolução que NÓS
fizemos nos últimos 50 anos. Mas não interessa quem fez o quê. É
preciso é que tenha sido feito. E que seja feito. E eu fiz tudo,
quando ainda não era suposto. Quando descobri que ser livre era
acreditar em mim própria, nos meus poucos, mas bons, valores pessoais.

Depois foram as circunstâncias da vida. A alegria de mais um filho,
erros, acertos, disparates, generosidades, ingenuidades, tudo muito
bom para aprender alguma coisa. Tudo muito bom. Aprender é a palavra
chave e dou por mal empregue o dia em que não aprendo nada. Ainda
espero ter tempo de aprender muita coisa, agora que decidi que a
Bíblia é uma metáfora da vida humana e posso glosar essa descoberta
até, praticamente, ao infinito.

Pois é. Eu achava, pobre de mim, que era poetisa. Ainda não sabia que
estava só a tirar apontamentos para o que havia de fazer mais tarde. A
ganhar intimidade, cumplicidade com as palavras. Também escrevia
crónicas e contos e recados à mulher-a-dias. E de repente, aos 63
anos, renasci. Cresceu-me uma alma de romancista e vá de escrever dez
romances em 12 anos, mais um livro de contos (Os Linhos da Avó) e sete
ou oito livros infantis. (Esta não é a minha área, mas não sei porquê,
pedem-me livros infantis. Ainda não escrevi nenhum que me procurasse
como acontece com os romances para adultos, que vêm de noite ou quando
vou no comboio e se me insinuam nos interstícios do cérebro, e me
atiram para outra dimensão e me fazem sorrir por dentro o tempo todo e
me tornam mais disponível, mais alegre, mais nova).

Isto da idade também tem a sua graça. Por fora, realmente, nota-se
muito. Mas eu pouco olho para o espelho e esqueço-me dessa história da
imagem. Quando estou em processo criativo sinto-me bonita. É como se
tivesse luzinhas na cabeça. Há 45 anos, com aquela soberba muito
feminina, costumava dizer que o meu espelho eram os olhos dos homens.
Agora são os olhos dos meus leitores, sem distinção de sexo, raça,
idade ou religião. É um progresso enorme.

Se isto fosse uma autobiografia teria que dizer que, perto dos 30,
comecei a dizer poesia na televisão e pelos 40 e tais pus-me a fazer
umas maluqueiras em novelas, séries, etc. Também escrevi algumas
destas coisas e daqui senti-me tentada a escrever para o palco, que é
uma das coisas mais consoladoras que existem (outra pessoa diria
gratificantes, mas eu, não sei porquê, embirro com essa palavra). Não
há nada mais bonito do que ver as nossas palavras ganharem vida, e
sangue, e alma, pela voz e pelo corpo e pela inteligência dos actores.
Adoro actores. Mas não me atrevo a fazer teatro porque não aprendi.

Que mais? Ah, as cantigas. Já escrevi mais de mil e 500 e é uma das
coisas mais divertidas que me aconteceu. Ouvir a música e perceber o
que é que lá vem escrito, porque a melodia, como o vento, tem uma alma
e é preciso descobrir o que ela esconde. Depois é uma lotaria. Ou me
cantam maravilhosamente bem ou tristemente mal. Mas há que arriscar e,
no fundo, é só uma cantiga. Irrelevante.

Se isto fosse uma autobiografia teria muitas outras coisas para
contar. Mas não conto. Primeiro, porque não quero. Segundo, porque só
me dão este espaço que, para 75 anos de vida, convenhamos, não é excessivo.
Encontramo-nos no meu próximo romance.


(parte da alma portuguesa partiu com esta linda flor... )
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